sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Visão do futuro!!

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

A mentira nossa de cada dia...

Num outro post, eu falei sobre felicidade e exemplifiquei usando um filme chamado 'o espelho tem duas faces' (Ser Feliz é Fucking Great). Hoje eu lembrei de outro filme, também sobre casamento e amor, com a Jennifer Aniston e o Vince Vaughn. Tal como o primeiro, esse filme fala sobre problemas no casamento, problemas comuns a muitos casais, mas o denominador comum é que a mentira se entrelaça entre os casais e protagoniza os filmes.

Tudo bem, admito que não dá para ser 100% honesto. O homem que, perguntado pela esposa a respeito do peso dela, responder honestamente que ela está gorda, provavelmente se verá em meio a uma tempestado nunca antes vista. Está certo que há perguntas para as quais não há resposta correta e que não importa o que o homem responda, ele sempre vai estar errado. Tenho pena deles nessas horas e me digo sempre que, se um dia me casar, tentarei ao máximo não pôr meu amor numa saia justa dessas. Não sei se conseguirei. Só o tempo dirá. Aqui, no entanto, não pretendo tratar das mentiras contadas pelos homens, nem tampouco das mentiras contadas aos homens, mas das mentiras que as mulheres contam a si mesmas.

Nós mulheres percebemos longe quando nossos relacionamentos estão capengando, mas nem sempre tomamos as decisões corretas. A personagem de Barbra Streisand, apesar de saber que estava entrando num casamento furado, preferiu viver a mentira de que aquilo que recebia lhe bastava. A personagem de Aniston sabia que o comportamento do marido a incomodava, mas ao invés de falar-lhe francamente, preferiu um confronto indireto, permeado de mentiras. Provocar ciúmes é uma faca de dois gumes, e é uma faca que raramente corta a nosso favor, muito mais fácil é que, quando o sangue comece a jorrar, ela se torne escorregadia e acabe cortando nossa própria mão. Ciúme não é prova de amor e não é meio de atrair para nós a pessoa que amamos. Mas não são raras as vezes em que nos sentimos tentadas a testar o amor de nossos parceiros provocando-lhes a mosquinha azul do ciúme. A personagem de Aniston foi até onde parecia impossível. Não se pode dizer que tenha perdido o amor de seu marido, pois o filme termina insinuando que poderia haver volta entre eles, mas vale à pena ir tão longe quanto ela foi? Ferir o outro é a maneira mais eficaz de demonstrar nossa dor? Sofri muito com mentiras na minha adolescência, também não cabe aqui entrar em detalhes. São coisas passadas. Mas desenvolvi um zêlo extremado pela verdade. Acredito que é melhor perder um amor honestamente a mantê-lo sob o jugo da mentira. Mentir para quem amamos nos escraviza de tal modo que em algum momento nos tornamos aterrorizados permanentemente. Vivemos sob o peso do medo de sermos descobertos. Vale à pena viver um amor baseado na mentira? Pode-se chamar de amor um sentimento que convive pacificamente com a mentira? Cada mentira que a personagem contou só serviu para afastá-lo mais dela. Teria sido mais eficaz ela confrontá-lo a respeito das atitudes que a magoavam, mas a verdade é que ela não tinha coragem de lhe falar de frente.

O amor é a base de tudo o que somos e se não sabemos vivê-lo em meio à verdade, então não somos mais do que uma mentira. É preciso buscar a verdade que trazemos em nós e defendê-la com unhas e dentes para encontrar a felicidade. Sem uma, a outra não existe. A mentira pode parecer mais fácil, mas ela tem pernas curtas. O amor, não, logo, mesmo a mais inocente mentira não consegue acompanhá-lo em uma caminhada que se prolongue um pouco mais e o fim de quem levanta sua morada sobre a mentira é o de caminhar sozinho.

sábado, 26 de janeiro de 2008

Pat Moore: 'este corpo não me pertence...'


Olha só o que fizeram comigo!!! Click by Ricardo Froes.

domingo, 13 de janeiro de 2008

Ser feliz é 'fucking great'!!!

Outro dia a sorte do orkut dizia que o amor-próprio era nosso primeiro e último amor. Concordo. Por mais que acreditemos que alguém nos ama, de nada vale esse amor se nós mesmos não nos amarmos. É preciso coragem para se assumir com todos os defeitos e qualidades inerentes ao ser humano, mas se essa assunção não acontece, todo o resto fica danificado, porque todas as atitudes visarão à eliminação dos defeitos e a valorização das qualidades. Mas o que são defeitos e o que são qualidades? Por que nos é tão fácil fazer uma lista de defeitos e se alguém nos pergunta a respeito das qualidades apelamos sempre para aquelas básicas pelo simples fato de que não conseguimos verbalizar o que temos de bom? Por que sempre relacionamos nossos defeitos a características físicas e nossas qualidades a características intelctuais? Os filmes e revistas sempre mostram mulheres que ou são belas, ou são inteligentes. É sempre o ou, nunca o e. Pesquisas já relacionaram fracassos amorosos a sucesso profissional e/ou intelectual, como se uma maldição rondasse aqueles que são bem-sucedidos. Ontem mesmo, assisti a um filme belíssimo, O espelho tem duas faces, onde dois professores universitários vivem um estranho conto de fadas. Enquanto a mulher buscava o romance, o homem fugia do sexo. E romance sem sexo, depois de um tempo deixa de ser romance. Ele fugia, porque acreditava que o fracasso de seus relacionamentos se devia à má influência do sexo, mas, na verdade, o insucesso se dava porque ele não sabia escolher as pessoas com quem se relacionava. Ela, ao invés, não encontrava o amor, o romance, porque não tinha confiança em si mesma, achava-se feia e desse modo os outros a viam, pois era assim que ela se mostrava. A beleza em si, pouco importa, mas o modo como nos mostramos ao mundo, como permitimos que nossos amigos e candidatos a amor nos vejam, essa visão é decisiva, é a diferença entre ter amigos e ter amores. O ideal é ter os dois, pois a amizade é um dos melhores tipo de amor que temos na vida, na verdade, sabendo escolher o amigo e manter vivo o relacionamento, a amizade é mais duradoura do que o amor romântico, mas ela não o substitui. Há coisas que um amigo não pode fazer, por melhor que ele seja. Enquanto Alex, a professora, anulou seus desejos em prol dos desejos de Greg, o professor, a única coisa que ela encontrou foi a frustração: não dá para ser feliz com alguém, sem ser absolutamente honesto consigo mesmo! Não importa o quanto você seja honesto com o outro, é com a sua consciência e com os seus desejos que você realmente dorme. Sem honestidade, o outro a seu lado é apenas um enfeite sem utilidade que, no máximo, dará uma satisfação à sociedade. Alex viveu uma mentira por meses, ela sabia que ele não a conhecia de verdade, ela sabia que ele não vira o fim da aula e, portanto, perdera o momento em que ela realmente assumira perante os alunos, que viver um amor, com tudo o que isso significa, é 'fucking great!'. Mas, apesar de ter consciência da mentira, ela aceitou e se escondeu ainda mais dentro de si mesma, recebendo muito menos do que desejava e merecia. A questão que eu levanto é: dá para amar num mundo como o nosso? Um mundo onde a verdade tem cada vez menos espaço, onde a futilidade impera, onde é crime de lesa majestade ter celulite? Dá, sim, desde que você não se deixe vitimar, desde que você se assuma como é, com celulites e tudo, e não aceite nada menos do que você merece. Desse modo é muito possível ser feliz. E ser feliz é realmente 'fucking great'!!!

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Da série “Descobertas perturbadoras”: um rabbit não é necessariamente um coelho.

Novamente fui assombrada pelas gargalhadas noturnas. Elas estão se tornando um problema, primeiro porque eu preciso dormir; segundo, porque é muito esquisito rir de seus próprios pensamentos. Como alguém vai me levar a sério se nem eu mesma me levo?A risada da vez é fruto da leitura de um blog, não de uma aula. Meu antigo professor ficaria muito triste se descobrisse que não mais me provoca risadas na cama[para entender esse comentário, leia 'rindo da minha morte', mais abaixo]. Ou talvez ficasse cabreiro se soubesse que eu ria dele na cama, afinal, homem nenhum quer ser motivo de risadas no leito, especialmente se quem ri é uma mulher. Esse blog é escrito por dois jornalistas, ou seja, a quatro mãos, mas o post que tanto me fez rir à madrugada(será que é isso mesmo?) passada foi escrito pela moça. Era sobre um workshop sobre sexo, algo do tipo, 1001 técnicas de enlouquecer seu homem ou quebrar-lhe as costas. O que vier primeiro. Ela citou o ‘programa’ do curso, o local, custo e uns links relacionados. O tal ‘curso’ custava R$250,00! Confesso, que, no momento, eu jamais daria R$250,00 por um certificado que eu não pudesse declarar no meu curriculum lattes. Não que haja algum impedimento para tal declaração, pelo contrário, existe local para declarar seus dotes... hã... hum... ‘artísticos’, mas se eu fizesse o tal curso, sentir-me-ia um pouco tímida para declarar total domínio da técnica de ‘oral sex from Thailand’ da mesma maneira que alguém declara saber tocar piano. Ademais, eu sempre pensei que pompoarismo fosse algo relacionado a pompons, mas, pelo visto, não é, e, para além dos preconceitos, declarar o conhecimento de tais técnicas no Lattes poderia pôr-me em maus lençóis: e se algum membro(ops!!!) de uma banca de concurso quisesse uma demonstração? Eu já tive ocasião de discordar de um membro de uma banca e isso causou a minha reprovação. A diferença é que, naquela banca, eu discordei de uma metáfora de futebol.Uma confissão: eu nunca entrei em uma sex shop! É que sou do tipo azarado. Se entrasse numa em Cingapura, na saída era capaz de dar de cara com o padre da minha primeira comunhão! Uma época, na adolescência, eu ia para a praia com amigas. Nós ficávamos na casa da família delas e tínhamos ordens expressas de não sair à noite. Por mim, tudo bem. Não via muita graça em boites de praia do interior, ainda mais fora de temporada. Mas, como elas iam, eu ia junto. Uma vez ficamos lá, na casa, durante uma viagem dos pais delas e, num sábado, a irmã caçula foi dormir na casa de uma amiguinha. Lá fomos nós! Dançamos um monte, era verão, alta temporada, o lugar lotado. À meia-noite, resolvemos sair para pegar um pouco de ar. Quem passa de carro bem na hora em que estamos as 4 na frente do lugar? A irmã caçula! A guria nos ameaçou por dias, até que cansamos e preferimos a bronca às chantagens!Bom, voltando ao tópico, resolvi visitar um dos links relacionados. Óbvio que foi o da sex shop. Admito que alguns paradigmas foram derrubados! Eu não sou tão esperta quanto supunha, pois até agora não entendi a relação entre ‘rabbit’ e um vibrador que não parecia um coelho! Cliquei na foto, esperando que, ampliada, aparecesse um desenho de um coelho, ou, quem sabe, um rabinho tipo pompom. Talvez umas orelhas pontudas... nada! E havia vários com esse nome. Será que é para disfarçar na conta do cartão de crédito, para esconder dos pais ou dos maridos a compra de um vibrador? ‘Filhinha, você comprou um coelho?’, ‘Sim, pai!’, ‘E cadê?’, ‘Fugiu quando eu abri a caixa!’. Ou será que tem alguma relação com a velocidade do intercurso sexual do coelho?Outra coisa curiosíssima: havia um vibrador pequenininho(5.5 cm! Depois tem gente que reclama do tamanho! Viu como isso é subjetivo? Daria uma boa discussão, mas jamais exporei minha opinião sobre isso aqui!), com uma cordinha onde havia algo que parecia ser um interruptor. O site diz que ele é discretíssimo e silencioso, aí, agora há pouco, quando eu ria na cama, eu pensava: discrição para quê? Não é algo que a mulher usará sozinha ou, no máximo, com um parceiro, entre quatro paredes? Se você não vai usar em público, não há necessidade de esconder... foi quando eu imaginei alguns usos no dia-a-dia. Ao visualizarem a cena, imaginem um locutor do tipo Casseta & Planeta.

Você está numa palestra chatíssima, está com muito sono e o palestrante, chatíssimo, fala num tom que lembra canção de ninar? ‘SEUS PROBLEMAS ACABARAM!’ Com um discreto movimento, você liga o seu discretíssimo vibrador e todos vão achar que você está amando a conferência! O único porém é que o palestrante mala pode achar que você o está paquerando e grudar no seu pé! Você está numa fila interminável(banco no dia 10, emergência de hospital público logo após uma incursão da PM ao morro etc.): um clique e você esquece tudo, até da dor da unha encravada e inflamada dentro do sapato que a sua irmã lhe emprestou(sendo que ela calça 33 e você 35). Ou, para homenagear nossa admirável ministra do turismo, você descobre que vai passar o carnaval dentro de um aeroporto lotadíssimo, sem lugar para sentar, a não ser sua mala! Você liga o danadinho, relaxa e goza!

Outra utilidade, no site ele é denominado ‘Mini Wireless Vibe’. Wireless é coisa de internet. Será que dá para acessar a net com ele? Só acho que, com duplo uso, deve ser meio difícil de visualizar o site, né?! Agora, cá entre nós, onde já se viu fazer um vibrador que parece um ob!Enfim, ainda prefiro acreditar que o segredo do sucesso de um relacionamento esteja num triângulo, a saber, amor, diálogo e confiança. Se esses três elementos não bastarem para fazer um casal feliz, curso nenhum bastará. Mas outro dia eu volto para descobrir para que servem os bonecos(com certeza, não são para brincar de guerrinha. Bom, agora que a Barbie é uma boneca livre, pode ser que ela faça uma festinha com um deles. Ou, quem sabe, dois!). E aproveito e digo o que penso sobre as fantasias de empregada e relacionamentos.Quer conhecer o site? http://www.a2rio.com.br/

O texto que inspirou este texto foi postado pela Mirelle.

Rindo da minha morte(ou melhor, do meu velório)

Devo ao meu professor de um curso do doutorado as boas risadas que dei esta madrugada. Antes que alguém pense maldades, ri sozinha, dormi, ou melhor, tive insônia sozinha. Minhas risadas não foram por uma (im)possível presença do professor, mas por causa de coisas ditas na sala de aula, quando discutíamos Freud (que, aliás, deve ter se remoído no túmulo com meus pensamentos noturnos. Não, meus pensamentos nada tiveram a ver com sexo, embora, admito, tenham tido a ver com minhas compulsões).Discutir Freud, por si só, já é um prazer, porque mesmo que não concordemos com as suas idéias, ou com as interpretações que nós, pobres mortais, tentamos fazer delas, sempre surgem coisas geniais nessas discussões. Mas minhas risadas não foram pela minha (ausência de) genialidade.Primeiro ri de minha compulsão por vacinas. Não exatamente por vacinas, mas por injeções. Esta compulsão, na minha ignorante visão, poderia referir-se à compulsão a repetição de experiências traumáticas de que Freud falava. Segundo meu professor, não, as compulsões a repetição de experiências traumáticas não tinham o efeito pedagógico que eu lhes atribuía, na minha ignorância e, portanto, minha compulsão por injeções não se enquadrava nessas compulsões. Nem por isso elas eram menos compulsivas. Ou menos cômicas para mim lá pelas três da madruga.Bom, vamos a elas: aos 11 meses mais ou menos eu me tornei uma criança bastante doente. Adquiri bronquite alérgica graças a uma empregada descuidada. E por isso tive bronco-pneumonia algumas vezes. Aprendi a andar no hospital e, nas minhas tardes de doente desocupada que não se sente à morte, dediquei-me às obras de caridade. Seria uma precursora do Patch Adams, se ele não fosse muito mais velho do que eu. Como as duas coisas, caridade e Patch, se associam na minha enfermidade? Simples: eu, na beleza de minha pouca idade, visitava os doentes, caminhando cambaleante como fazem os bebês. Quantas daquelas pessoas que visitei não ganharam dias extras de vida só por divertir-se com uma guriazinha desobediente que não ficava no leito? Bom, por força das circunstâncias, via-me obrigada a tomar 3 injeções ao dia o que, cá entre nós, não é fácil para uma criança. Quando eu já sabia falar, para fugir das injeções, além de me esconder embaixo da mesa da cozinha, eu pedia para me deixarem morrer. Isto com uns 3 anos. Dramática, não? Vinha daí o meu histó(é)rico pavor de agulhas e seringas. Uma vez, precisei tirar sangue para um teste de alergia. Com muito pavor(da minha parte), o cara do laboratório tirou uma ampola de sangue. Tudo bem(?) até aí, mas ele não me avisara que deveriam ser duas ampolas. Ao vê-lo encaminhar uma segunda ampola, minha veia simplesmente fechou e dalí não saiu mais uma gota de sangue. E olha que ele nem tirou a agulha da veia!! Para piorar, ele cometeu uma barbeiragem e vazou sangue da veia por dentro da pele. Resultado: ficou tudo roxo e eu fiquei umas três semanas parecendo uma viciada desastrada.Bom, acho que corria o ano de 1995, quando eu decidi que deveria vencer esse estúpido medo. Afinal, dias antes eu apresentara uma palestra sobre Sandro Botticelli com grande sucesso e uma palestrante de renome não pode temer um objetozinho tão insignificante. Calma Ego, volte ao normal!!E a oportunidade se apresentou sob a forma de vacina anti-tetânica: isso, vou vacinar-me!! Afinal, naquela época eu ainda sonhava com uma prole, e toda mulher com tais sonhos deve vacinar-se contra tétano! Fui lá... entrei na fila e, quando chegou minha vez, respirei fundo, dei meus dados, fechei meus olhos, olhando para o outro lado e... não doeu nada, apenas uma picadinha e, sinceramente, já passei por coisas mais dolorosas na vida. Vencido o medo, nasceu a compulsão. Comecei a vacinar-me sempre que possível. Hepatite (e, hoje, eu nem lembro para que hepatite era a vacina!), e uma outra vacina que mulheres em idade fértil devem tomar, rubéola ou algo parecido. Detalhe: o governo havia determinado que apenas mulheres de até 29 anos deveriam tomá-la, e eu já havia completado 30. Durante dias eu me revoltei ao ver a propaganda: como eu não podia tomá-la??? E se eu engravidasse? O que seria do(s) meu(s) filho(s)? [O fato de que na época eu era solteira, sem namorado, noivo, paquera, gabiru (como disse Artur da Távola) nem me abalava na minha convicção do meu direito inegável e inalienável à vacina, quase comecei um movimento em prol das sem-vacina]. Quando fui à UERJ antes do fim da vacinação e encontrei uma mocinha da enfermagem sozinha, abandonada às moscas, à espera de uma mulher de até 29 anos para vacinar, não titubiei: fui até lá e a convenci a me vacinar!! Aliás, como eu era relaxada com as outras doses da anti-tetânica, eu tomei a primeira dose pelo menos 3 vezes. Quase me imunizei contra a vacina. Hoje eu dou graças a Deus de naquela época ainda não existir a campanha de vacina de idosos contra gripe, caso contrário eu teria dado um jeito de vacinar-me também, mesmo me faltando trinta anos para a idade mínima! Até posso ver a cena: a fila imensa de velhinhos (sim, porque velhinho adora fila. É um momento de encontrar os amigos que ainda estão vivos, falar[mal] dos que já morreram, falar de artrite e artrose, reumatismo, netos, bisnetos etc...) e eu lá, misturando-me a eles para tentar passar desapercebida. Ou ainda: não existem as filas preferenciais? Em tese, estas filas são para minorias, não é mesmo? Idosos, gestantes, deficientes. Como entre eles eu seria a minoria, eu poderia exigir uma fila preferencial para mim. Furaria a fila na cara dura. Depois, se morresse por causa da vacina, iria direto para o inferno! Mas, chegando lá, encontraria um fã clube, com direito a faixas na recepção!!Bom, aqui acaba a saga das vacinas para começar a da morte. Eu não tenho medo de morrer. Não mesmo! O dia em que tiver de morrer, morrerei em paz. Mas desde pequena fui solidária à desgraça alheia. Por isso, aos dez anos doei minhas córneas(ou, retificando: tornei-me candidata a doação). Detalhe curioso: como eu era bem menor de idade, meu pai teve de assinar. Ficou todo orgulhoso com o meu gesto. Mas não doou suas córneas. Legal, né, fazer caridade com as córneas alheias. À época, eu tinha uma visão perfeita. Hoje, sou míope como uma toupeira (embora eu nunca tenha visto uma toupeira de óculos para me provar tal ditado). Fiquei imaginando esta madrugada a fase final da cirurgia que transplantou as minhas córneas para um pobre cego pobre. Não, eu não repeti o pobre por acidente. Lá estão o cego vendado com ataduras, a enfermeira que as retirará, a médica que examinará os olhos e... uma faxineira com um esfregão de ponta-cabeça (acho que é assim que se escreve ponta-cabeça). A enfermeira tira as ataduras e o cego se vira para a faxineira e diz ao esfregão: QUE MARAVILHA, DOUTORA, VOLTEI A ENXERGAR!! Já fora do hospital, ele caminha, confiante, e... dá um baita encontrão numa placa de PARE. Depois de esperar horas na fila do Souza Aguiar para engessar o nariz quebrado, ele pega um ônibus e... vai parar numa favela, dentro da qual seis bandidos armados até os dentes anunciam o assalto. Detalhe: o ônibus era da favela do jacarézinho e o ex(?)-cego morava em jacarepaguá. Por fim, o cego chega à conclusão de que precisa de óculos. Vai ao oftalmo e descobre que ao morrer, eu tinha 10 % (isola, toc, toc, toc) de visão no olho esquerdo e 30 % no olho direito. Detalhe para encerrar o drama do pobre ceguinho pobre: o óculos vai custar três meses de pensão.Mas deixemos minha miopia e meu ceguinho pobre pra lá. Não contente em doar minhas córneas deficientes, na UERJ, durante uma UERJ Sem Muros (sempre ela, foi numa UERJ Sem Muros que comecei a minha compulsão por vacinas, deviam pôr um cartaz proibindo a minha entrada: cuidado! compulsiva a vista!), eu doei(novamente retificando: tornei-me candidata a doação, afinal, ainda não tiraram nada meu... bom, teve um fulaninho que tirou uma tal de virgindade, mas já caducou o prazo de reclamação...) meus órgãos, minha pele, meus ossos. Fiquei, então, imaginando meu enterro, essa madrugada: depois de ser descarnada pelos médicos, sobraria, apenas, a minha caveira sem olhos, nem pele, nem carne, tampouco com dentes ou cabelo (sim, porque já deve haver transplante de couro cabeludo e, se ainda não houver, haverá até a minha morte). Então, me enterrarão num caixão de bebê e, para melhorar a minha aparência, colocarão em mim olhos de vidro, uma dentadura e uma peruca de fios sintéticos. Não é uma imagem engraçada: uma caveira sorridente, com olhos verdes e cabelos ruivos (meus últimos desejos)?É, a morte pode mesmo não ser tão assustadora se a encaramos com bom humor. Freud deve estar orgulhoso de mim. Meu professor, nem tanto... Bom, devo dizer que o curso acabou, mas a mania de rir sozinha na cama de madrugada, não!